17 de dezembro de 2009

2009+1

Ultimamente também estou sem inspiração pra escrever. Fui começar a falar sobre meu ótimo ano de 2009 e... lendo depois, pareceu um texto burguesinho de merda, pavoneando-se (com estilo, com estilo, ui) das conquistas que não dependeram só de mim. Vou retalhar tudo, desconstruir toda aquela merda. Chega de mimimi!
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— kkkkkkk! mimimi é ótimo!
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__Breves agradecimentos de um de-novo-estudante a alguém que ele julga que talvez não exista.
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__Olá, Sr.
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__Crise? Crise deles. Saio triunfante desta tua era, que a tantos cicatrizou, mas que a mim acolheu, e empurrou, e apazigou, e torceu.
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__E já era tempo! Meu cérebro estava cada vez mais balofo, atrofiado e preguiçoso. Adeus, rotina cubicular. Adeus, estilo grátis. Acefalia clientelar. Adeus, adeus a todos. Antes que eu dependa de vosso salário, adeus. Crédito de obséquio, politica indicativa, clique aqui, adeus.
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__“Não sente falta?” — Não. Eu, ávido por conhecimento, ter todo o tempo, por um limite de meses, pra saber mais e mais e mais? Não faltava nada! Hoje, graças à maturidade que eu não tinha aos 17, pude absorver com muito mais crítica e capacidade.
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__Resultado: 2ª fase nas duas maiores universidades do país em artes cênicas. E vem mais. Nunca, nunca me senti tão apto, e preparado, e decidido para seguir em frente uma escolha que só eu e ninguém mais é capaz de entender com profundidade e abrangência.
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__E na escola de teatro teve mais. Quem diria que todo o conhecimento adquirido nos quatro anos de faculdade marqueteira pudesse contribuir decisivamente no sucesso de um trabalho cuja matéria por mim foi considerada crítica para definir meu futuro na área pela qual hoje opto? (Respira). Uma promissora possibilidade paralela acaba de brotar. E nem notas, nem fogos de artícício: não há reconhecimento melhor que o da sua própria consciência.
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__Pensar demais? Que seja. Eu penso mesmo. Mas se o assunto é trabalho, eu penso é com os braços. Se o assunto for amor,
quero sentir,
deixar o moleque falar alto
Aceita?
Não?
Tem quem.
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__Vontade de gritar: Porra! Caralho! Só não grito (agora) porque as mulheres aqui de casa não gostariam...
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__Aqui por cá, a saída da agência e a nova decisão coincidiram num período de harmonia no lar nunca vista. Há seis meses que não nos ofendemos. Recorde 12x maior que o até então! Vai ver foi por respeito. Melhor um irmão pobre e confiante do que um rico e babaca. Ou não? Não sei. E nem preciso saber. Por mais piegas que isto soe, o sentido de família deixou de ser demagogia.
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__(Porra! Caralho!)
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__Descobrir tal missão também elevou a autoestima a picos virgens. Minha descobridora que o diga! Talvez se, entre comprar um carro, sair de casa e fazer uma meia para estudos, tivesse optado destinar minhas economias a alguma alternativa que não a última, eu ainda seria (escolha um radical)_mente dependente de um molho de chaves. Por mais que isso no fundo importe, quer seja por status projetado, quer por conforto. É...
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__Sinal de afirmação divina? Destino? Oras, o Sr. percebe que dentro dessa cabeça “que pensa demais” há uma supertição infundamentada, mas crente? Conheci, logo após minha grande guinada, uma turma de teatro reunida aleatoriamente que foi de grande influência espiritual para eu rumar decidido a livros e apostilas colegiais. Tudo confluía até nos mínimos detalhes.
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__Já da turma na qual estive por dois anos... tchau. Tive que ir mais cedo. Sentiram uma certa frieza, eu sei. Paciência. São decisões. Quando percebo que um ciclo está no fim, prefiro não fingir que é a mesma coisa. Era hora de partir, antes que azede. Sei que me julgaram de ene maneiras, que me fizeram de pauta, mas entre eu e eles deixo que o Sr. resolva as aparas e futuros cruzamentos.
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__Também não posso terminar essa prosa sem falar de última descoberta de 2009. A mais óbvia: a simplicidade do toque. Só que, dessa vez, um toque ainda mais senhor de mim. O poder de uma mão feminina, quando há dança entre as peles, supera em poder até os remorsos mais profundos. Me fodi? Sim, me fodi. A escolha pela química não faz vestibular com outras matérias. Mas é bom. E ainda saí forte: ainda que digam “Nunca tiveste tantos nãos”, responderei que “Só porque me dei mais sims.
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__O Sr. presenteaste-me com diversas boas mudanças. Que não fiquem só nas frases de efeito, hein? Se teu sucessor der continuidade, já está ótimo. Hoje tenho a categoria dos 25 anos, mas, graças a tantos boas manchetes, a energia para encarar essa nova era é de, novamente, 17.
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__Adeus! Valeu! Valerá!
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__E merda!
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PS: O autor da carta tem consciência do teor medioclassista de suas palavras. Nenhuma das conquistas estão livres de serem julgadas a partir do berço que, se “graças a deus” não é elitista, teve certos privilégios sobretudo à meticulosa carreira de sua mãe e ao exigente suor de seu pai, e não somente aos próprios neurônios, que sempre foram valorizados e estimulados no seio familiar. Uma análise euclidiana dos fatos históricos familiares, sociais, profissionais e amorosos, que ao sucesso o têm levado, apontariam que, se não fosse a infância mais humilde dos pais, não haveria a valorização dos recursos oferecidos aos filhos, fator que o influenciou nas decisões a respeito de suas finanças; e se não fosse a exigência declarada de que o filho tirasse as melhores notas, psicologicamente este não estaria preparado para encarar um caminho autodidata perante o vestibular mesmo 8 anos após a conclusão do colegial; e quem saberá se, se o estudante não tivesse tropeçado num livro de humanismo em plena biblioteca de marketing (um paradoxo), ele não teria traçado a rota que o desviou de uma carreira tão promissora, que tem como gloriosa Cruzada  alcançar o Himalaia do ego frasal. Sem culpa católica, nem presunção calvinista, ou seja, consciente duende vim e nuonde quero chegar, não farei com que tantos esforços evaporem nos assépticos terrenos culturais dos já afortunados. Mas este é assunto para outra vida. Que começa em três, dois, um, feliz ano ovo!
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Um comentário:

Inaudita disse...

Parabéns pelas segundas fases em cênicas. Espero que tenha passado.
Grite "Porra! Caralho!" sem se preocupar com as mulheres da casa. Aliás, elas devem ouvir isso na rua e aposto que também têm vontade de gritar. Quanto a pensar demais, por favor, keep doing it. Sei que sou uma desconhecida qualquer, mas fico desesperada pela ausência de pessoas que pensam demais, então, ouça-me (leia-me!). Além de continuar a pensar demais, recomendo que continue a escrever. Se não há mais seres pensantes, o que diríamos de seres “escreventes”? Orwell e Kafka já morreram, mas ainda há (poucos) leitores para bons textos. Ah, e merda.