25 de setembro de 2007

Amardura despiada

Desparte um: Seduz

Despeta olhares
Sem me despido
Foi ter vulnerável
Rubror nu trazido


A sós me despiste
como se me viste
com que me soubesse
Já tu me pudesse


Contraria e me despe
que do frágil pulsa aberto
o peito mais desperto
quando a sós nos reste


Amardura de luta
Única
Reluz sem dar-se
Vencida
Nela tu viste
A tuúnica
De fácil manejo
Descida


Com palavra me descalça
Com o lábio mempessonha
Com um gesto empurra a alça
Vermemvergonha


Me olha de lado
Inteiro
Sem censura

Descobre no acanhado
Guerreiro
Mais que armadura


(Me pulsa um tema
Que esgota o poema)
Mas purifica
Simplifica


Desparte dois: Reduz


Cai a minha alva
Cai a mim, a vergonha
Cai a alma falsa
__
__

20 de setembro de 2007

Esterilismo

Em falta

A véia Iá
Da Bahia
De famia
Empregada há mais de tem
Fazia um pastel que dava gosto

Seus "neto"
Borrados da terra
Do jardim da sua casa véia
Falavam da escola
Com a boca cheia do pastel que Iá fazia

A mãe reclamava
Do pastel molhado
Não era saudável
O nham da Iá

Os moleques não ligavam:
A gorda era farta
E os netos só enfartavam
Queimando no jardim da Iá

Os moleques cresceram
Boas notas tiraram
E se foram
Pra onde os pastéis
São mais secos
Como o ar que entra
Pela grade de seus ares

Enquanto, a TV ligada
Na cozinha a véia:
Dona Iá faz pastel
Distrai da programação.



Modas

Na arenosa
Velhos em cavalos
Pais e filhos
Lutam a tradição

Mas
De onde tradição?
De onde vêem?

Os dançarinos
Os figurinos
Sejam obrigados
Sejam graciados
Tão o número
(que é número, pra mim)
Como se fosse o infinito
E assim a arte se trança
Sem as barras listradas

Eu, de roupa de marca
Eis que mais marca
O trapo dançante
Dos palcos marginais

Não entendia o chiado
Mas dizia: de onde vêem?
E por que tão siglamente
Se trepam
Se trapam?

Esses trapos
Vestes mágicas
Revelam São Paulo
E rasgam no povo
A memória esquecida.


Esterelismo

Caixa eletrônico
Baixa automática
Gravadora de replay
Creme anti-rugas
Ares condicionado
Inspiração condicionada
E remédio pra remediar o remédio
E produto pra produtar pra tudo

Enquanto a cidade
E a -lização
Constroem prédios
Pobres constroem barracos
E o concreto
Estreliza

E-mail
E-commerce
E-nviromment
E-is
E-x

E-daí?

Que cultura é tal
Que desaba cabanas
Que nos assepseia
E nos tira os velhos
Das cidadelas
De trapos tão vivos?


Marcas

Disseram-nos proibidos
Um, branco e cabeça
Outra, víscera e linda

O que um choqueia n'outro
Nem os trapos diriam
Nem as roupas de marca
Mas os trajes ao chão.

E mesmo poliviciados
Dentro do dável
Semeamos os arfos

Foi quando lembrei
E fui comer na Iá.


Perecíveis

De onde, tais culturas?
De onde vestes, como juras?
Cá a ducação
Nos assenta na beleza
No brilho, no saudável

E tal assento
Não prepara
Pro quarto dum velho
Que em últimos dias
Nos causa ânsia
Do cheiro forte
E a pele caindo

E nós, que dissemos
Amar o velho
Caducamos
Neste amor pasteurizado

Sinhá Iá tava magrela
Pegou doença fedida
E os moços conversam com panos
Cloroformados
Para ouvir a véia falar

Dona Iá sorri
Tosse o rim
É quando surge um compromisso
De prevenção
Que puxa os moços
De olhos marejados
Pro ar puro
De seus carros

Não faz Iá mais pastel
Aquele ruim, mas bão

Quem matou a véia
Foi a pasteurização
Dona Iá caiu sozinha
Sem ter passado em livro
Sem pagar a resenha
Nem posto em exposição.
__
__

15 de setembro de 2007

Por um fio

No último garfo, a surpresa
Dum chef pra lá descuidado
Meu prato obteve a destreza
Justo o que tinha namorado!


Humildemente, diz obtuso:
Não cospe em prato comido.
Mas tem qual não seja excluso
A um fio de cabelo escondido?

Humilde, mente o gerente.
(Dos simples prazeres, larápio)
Mas quem quererá novamente
Ver, mesmo pintado, o cardápio?
__
__

13 de setembro de 2007

Camadas

Na de cima, pinças catam mandiocas
— É minhac! Como. Ia. Dizendo.
E cá, lá, dá, nhá, c, ah!
Papapapeado até o amanhac!
Na de cima a busca poupada

Na de baixo, a busca calculada
Pela batata, coxa e colchão
Tato às escuras
Porém bem nas claras
Na de baixo a busca apalpada

É que são camadas
Separadas
Pela mesa do carteado
Do papeado
Do socialado

A minha mão
Descansa na sua coxa
Que-que-quer a minha
Mas há entre as camadas
A mesa plana
De cartas, de planos, e panos
A mesa que põe
-Te nas tuas
E menas minhas

Aí está!

Na de cima, cá nada
Na de baixo, trifurcadas

Está aí! Está aí!

Minha camada, na sua - se põe
Sobrepõe
Subpõe
E sua
Cava e sai da pele
Que é essa mesa carteada

Ao teatrando artificial
Ao manobrando artifício
Almejando artifícil

Camada social
É aquela que a gente finge
Mas camada submesal
É a que atinge
É a que nos diz as mãos
Que negam os petiscos
Preferem os deliscos

Vem-se comigo
Desfaz-me de amigo
De cartadas às quartadas
De saturadas às banhadas
Das fritas às cozinhadas
E nós, enfim, nas camadas.
__
__

Merkading

A padoca do seu Zé
Tinha pão por dé
Vinha fruta do pé
E me diziam Inté.
— Brindava até de café!

A gravata, o marketing
Mercadou, virou plim pling
E hoje o meu dim ding
Não dá pro amendoing.
— O Sr. José não vale o meu tim tim!
__
__