10 de dezembro de 2005

Rir e chorar, sorrir e sonhar.

Engraçado é ter me formado numa escola de propaganda tendo louvor por ter relevado o maior publicitário da humanidade: o medo.


Hoje, uma parte de mim chora, verte lágrimas, deixa tenso, me faz querer gritar. Sabe quando se faz aquela cara icógnita, indefinida, que por um milímetro de feição alterada pode se tornar de choro pra riso, ou de gargalhada para dor profunda? Este sou eu agora.


Sou eu, porque quero chorar, a alegria é tamanha! Porém, o riso que estampa na cara, que vem do alívio, da boa nota, da indicação, da redenção, do redimir, das diversas situações engraçadas ocorridas, torna-se superior ao choro que lateja. E de tão pungente que é esta lágrima, pressiona a sensação intensa para a cara, querendo implodir minha face em prantos comemorativos, e por isso fico pulsante, irritante, mas com boas causas. Mas este cá sorriso não se deixa morrer.


Tudo foi muito novo, inesperado, divertido e autêntico. Como conseqüência, o sorriso — que parece falso, de tão constante e inalterável —, o sorriso que não vacila, que permanece, não deixa um segundo sequer a força dos músculos do rosto ceder à tentação do choro que quer a sua vez. É a briga, a luta interna; são dois vulcões querendo explodir sobre o outro. E que bom que esta seja a luta; é o sorriso de uma felicidade pura, que, como dizia Machado de Assis, é como tirar um sapato apertado ao final do dia — eis a felicidade gratuita e acessível a todos.


O receio causa alívio. Uma parte de mim está aliviada. Mas fosse tão somente, estaria como num dia qualquer acrescido de uma linha a mais em meu currículo. Por ontem, o tal "rir pra não chorar" fugiu do sentido pejorativo para definir meu atual estado de alegria intensa, nunca sentida, nunca provada, nunca deliciada. Não apenas venci os quatro anos de experiência e desgaste, como transpassei às minhas próprias expectativas, superei a mim mesmo, assassinei o superego onipresente, e tudo foi num momento decisivo onde a necessidade de eliminar o comum foi mais forte que o comodismo do fazer-por-passar.


[...]


Resta-me deixar em branco a frase intacta, mas recicladamente aproveitada, de Stendhal, autor d'O Vermelho E O Negro, para fechar com oportunista ambigüidade, graças à circunstância, e também para deixar a quem ler a livre interpretação contextualizada. "A maior parte dos homens do mundo, por vaidade, por desconfiança, por medo da infelicidade, só se entrega ao amor de uma mulher após a intimidade."

Dois vulcões quando escrevi. Três, quando postei.

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