15 de dezembro de 2004

Eu acredito em deuses; — é o que faz aquele que necessita do outro, pois não é por si só [...].

Foram semanas de ausência, sim, confesso. Traí minha própria promessa, sim, confesso. — Mesmo sendo a poucas pessoas que apreciam o blog, ou que sentem pena de mim; (sim, confesso). — E agora meus dedos estão gordos; as vias por onde fluem as idéias têm colesterol ruim; e as artérias do coração quase foram entupidas.

“Ó, perdoe-me por desobedecer-te. Por ceder às exigências da carne; por não te corresponder quanto a anseios. O senhor é meu pastor; talvez tudo me falte.” — Dizia eu a quem eu mais acredito: ao espelho; à criança que dorme.

Agora eu digito; — não é escrever, é digitar. Não quis fazer rascunho do que ia dizer, e sim começar e descobrir aonde chegar. O clima está frio, e como meu motor também funciona a álcool, talvez morra logo após a partida.

Nesses dias, a pressão da faculdade impediu idéias. Sei que um não estão opostas à outra, mas... pelamor, como é que posso? No trabalho, sento para digitar textos vendáveis — o que é uma mentira; meu texto é só suporte — e nos dias de folga, mais textos; dessa vez, longos trabalhos para as matérias mercadológicas; (carinhosamente chamadas de merdológicas). Primeiro, Trade Marketing. Depois, Recursos Humanos. Para fechar com chave de ouro, CRM. Muito estresse, muito. O que estou fazendo, deus! Um nome no currículo vale postergar a mim mesmo?

(Questões antigas levantadas por todo jovem.)

Morri às letras; fechei os livros; dormi nos ônibus; e deixei de observar os detalhes. E agora o arrependimento, por não ter combatido o sono, por não ter fluído a ânsia que sempre ferve no cerne, por ter tapado com terra e grana e gana a lava quente que daqui emana; ela endurece, e agora não explode mais como antes. Há algo gritando abafado, e esse algo cresce, estufa, pressiona e quer implodir essa crosta suja, este poro entupido de fraqueza mental, “moral”.

Ó Hades, dos vultos, que agora me aprisionam; houve ciúmes de minha não-visita costumeira? Ó Apolo, músico, que agora só tocas, e não me deixas tocar. Ó Dionísio; não queria que tua casa fosse a última saída, e sim a primeira, a oportuna, e não-obrigatória! Eros, por que te escondes? Afrodite, por que me zombas? Ares, traze-me novos ares! — Vós e todo vosso universo, voltai a girar em torno de mim. Fazei-me parte de vossa órbita!

São os votos de todos nós, Claucios que sonham em voltar a sonhar por nós.

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