10 de agosto de 2014

Paulistano é fado

O paulistano médio alto hasteia seu lema: non ducor duco.

Fosse moral, saberia pra onde foram seus outros trilhos
que, à noite, forçam as veias alvi-rubras (cidade luz de natal)
presa em pressa e pinheiros de consumo sem data aliviante.

Non ducor duco.
Em cem anos de projetos
Cem ânus em solidão 
— por hora, na marginal central.

Non ducor duco, há cem anos também lemacidade:
"Tantos milhões de progressos!
— e quatro rodas, coroas para cada um."

Confundiu-se plano diretor com plano dirigir
(porque non ducor duco)
e step com roda reserva.

O paulistano médio do alto
de assalto farto e, de asfalto, salto
morando onde se lê lift
morando onde se lê loft
meditando onde se lê Luft
(onde, já se crê, 47% de motoristas é o mesmo que de toda a população)
traduziu 'não sou conduzido, conduzo'
em lema de honra
em tema pró-buzina
pro busão que chegou primeiro.

Tantas concessionárias, mas não concede:
beija o brasão, respira carbono fundo e brada
Non ducor, duco!


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