31 de julho de 2006

A voz de vós.

__Certas estrelas se gliterizam. Querem os holofotes. Certos atores cerejeiam o bolo. Um deles, ensaiando uma peça cujo nome ninguém no ramo conhecia, ou sequer ouvira falar, explodiu após um sonho de morte: um Eros "eróico" em homem. Mas os dedos apontavam-no como outro caído no canto de sereia! Angustiado, esticou o arco, apontou sua flecha ao seu coração pronto para extingüir do mundo a esperança e...
__Acordou de pulso palpitante. Não conseguindo voltar aos travesseiros, abraçou expremendo-os, como se deles fosse escorrer o clichê doce néctar de uma diva. Sonhou que a sereia era seu reflexo. Quis ouvir de perto, aproximou seu rosto e...
__Despertou mais uma vez. Estava em pose de flexões de Narciso. Seu lago: a baba na fronha. Tirou-a e abraçou de todas as formas as almofadas. Entre umas almas, outras fadas, sonho com coisas devidas e...
__Acordou novamente, dessa vez com dor nos testículos. Latejava, e seu pau estava de cabeça erguida. Rindo.
__— Ei, tu aí de cima? Queres ver como meu martírio te corrompe?
__— Egoísta!
__— Eu te desafio!
__— Vais aprender a conviver com todos! Abandona-nos, que nós dois te podaremos até a lição aprendida!
__— Dois? Que dois? Aqui não sobrou ninguém, há, há! O teu medo me prende. Minha prisão te molda. E nem o terceiro, esse calado aí entre a gente, consegue algo mais que seus surdos tambores, há, há!
__Escárnio da carne.
__Acordou de mais um. Agora suava frio o ator, e teve a sensação da solidão observada. Intuiu que havia ali, em torno, alguns olhos. Apertou o interruptor para acender a luz, mas nada. Escuro ainda. Clic, clic, clic, e nada. Escuro.
__— Não adianta, principalzinho.
__— Quem está aí?
__— Somos nós, os coadjuvantes. — Eram muitas as vozes em brado; não em uníssono, mas num coro retumbante. Eram oito. Não, oitenta! Não, eram...!
__— Isso, sonha. Sonha mais. Estás dormindo? Acordado? Não importa, lembrarás. Lembrarás, porque seu monologar voltará em dardo certeiro. Acreditas em teu monólogo? Acreditas que pode tomar para ti toda (a) atenção? E cobrir-nos com tua fumaça de gelo seco? De gelo, sim, por frieza, e seco, por rispidez! Olha para nós! Ah, está escuro, não? Não nos enxergas! Não nos enxergas nem quando não há interruptor! Seja dia, seja noite! Sabes o que são os coadjuvantes aos protagonistas? Sua causa! Sua lava! Sua cicatriz! Mas não, tu não encaras. Tu te escondes de nós dentro desta cama de concha!... Mas haverás de te abrir. Porque monólogos nunca duram mais de uma noite de apresentação. Tanto em arte, quanto na resistência de um ser. Tu podes ser a voz principal, porém lembra-te do cerne, do teu alicerce. Nós! Nós, que, quando hás de estar sob holofotes, somos a sombra. Agora, ou aceitas, ou assumes: melhor um silêncio a dois que um discurso monólogo. Ouve nossa voz. Nós somos teus eus.
__— Me largue, milagre! Me largue, milagre! — Era seu novo acordar.
__Reinava o silêncio. E, com todos de cabeça baixa, pensou naquela história, no que haveria de ser, nessas palavras que gritara como louco no momento do sono rasgado. E sentiu desejo de dizer. Ligou. Ligou e disse trocando o da distância unilateral pelo aqui de um dueto.
__— Fe... feliz... por você estar aqui.
__— Mas eu não estou aí.
__— Não fisica... fisica... mente.
__— ...
__— Estou... feliz.
__— ...
__— ...
__
__
__
Tu!, me largue... Tu!, me largue... tu!... tu!... tu!...

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