2 de setembro de 2004

Showmício: no pão e circo, os palhaços são a gente.

Na manhã do sábado, essencial para minha grade de descanso semanal, fui acordado às nove com um carro-da-pamonha cantando uma canção eleitoral. A voz não poderia ser pior: algum cover do Zezé de Camargo, que cantava: “Celso Giglio, Celso Giglio, o povo de Osasco gosta muito de você-ê!”. E o narrador, com tom de rodeio, anunciava o showmício que teria ali mesmo, perto de minha casa.

Eu fiquei tão puto com aquela interrupção que desejei ter um bastão de beisebol para arrebentar as caixas de som daquela Towner filha da puta. E não sou o único, disso garanto. São tantas pessoas iradas com sua eleitoragem, que o Celso Gíglio deveria trocar seu nome para Celso Gigolô: deixa toda a gente puta.

Eu desci de casa, avancei ao carro e parei em frente dele. E fiquei estátua. A gorda, feliz da vida com o dinheirinho ganho pelo polí-tico, buzinou.

— Quer sair da frente?
— Desligue o som. Quero dormir.
— Estou fazendo meu trabalho.
— Mas a senhora e sua vã incomodam a gente.
— Só dá o senhor reclamando!
— Pois que seja o único! Há de haver o primeiro! Logo vem o resto!
— E como você sabe que eu incomodo? Tem muita gente que gosta do Celso!
— E como você sabe que “o povo de Osasco gosta muito” dele? Eu sou povo dessa joça, não me incluam no meio. Eu tenho direito de dizer que você mente.
— Ora, saia, seu louco.
— Toma, então!

Os golpes do bastão de fogo detonaram o carro. A mulher fugiu. A polícia chegou, levou o delinqüente, prendeu-o e somou-o nos números de presos durante seu governo, para engordar o eleitor com promessas de melhora.

E sai uma matéria dizendo que 30% do eleitorado tem ideologia. “São os outros 70% que a propaganda pretende atingir.” E dizem: publicitário é uma profissão nojenta? Oras, eles são é espertos. Duplipensadores, não? Mas só surgem com essas falhas humanas. Sempre foi, sempre será assim. Tem gente que vota no PT porque é contra o resto. Mas não adianta, o estrago já foi feito quando você nasceu, formando-se com seus pais.

As eleições deveriam ocorrer a cada ano. Afinal, só em ano eleitoreiro que eu vejo as obras pipocarem por aí. A pracinha aqui da frente ganhou outra cara, concordo. Mas tem 6 candidatos por poste. Tinha traficante cobrando pedágio das crianças na escola aqui perto. E as baladas são baladas de verdade: bala dali, bala de lá... E eu volto pra casa com medo de assalto no ônibus. Mas carro da pamonha não falta em ano de “troca” de prefeito.

Choro, porque creio que esses 70% são dos que se entregam a deus.

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