18 de outubro de 2005

Campo magnético.

Por que magnético? O que seria um olhar magnético? Seria um olhar que exerce forte e inexplicável atração; um olhar encantador; um olhar fascinante? Seria. — Mas até aí, nada de novo; isso tem no dicionário. — Lá vou eu, porque as palavras têm dois sentidos: o usual-convencional e o pessoal-intransferível. Não ficarei no comum. Minha admiração não é comum. Tampouco ela é recente. Vamos ao pessoal.


Lembro do primeiro ano colegial, das conversas dos moleques.


“A Fulana é interessante por que é assim; a Ciclana é bonitinha porque é assado. Mas o olhar daquela...”. — A opinião, sempre com aquelas reticências que incompletavam a frase. Era o vazio, o silêncio de quem não soube dizer.

Ou melhor, o silêncio de quem teria vergonha de dizer e comparar os olhos dela àquilo que lhe veio à mente. Talvez não compreenderiam, e guardou consigo a associação. A associação e também a lembrança, de que seus olhos eram como dois buracos negros.


Guardou consigo porque não queria ter de explicar o que eram buracos negros.


“São regiões do universo onde qualquer corpo que nelas cair, nunca conseguirá sair. É um mergulho sem volta. Eis a semelhança com seus olhos. Uma vez olhado, nunca esquecido. De todo o universo, impossível desviar.”


Alguns anos depois, quando achou que tinha outros olhos, veio aquele par, novamente e ao acaso, aprisioná-lo. Achou que tinha amadurecido. De repente, viu-se como o menino de anos atrás.


Ei! Mas isso não se amadurece. É atemporal. É único. Porque algo não mudara. Não mudara aquela leveza, nem aquela icógnita, nem aquela escuridão misteriosa e, principalmente, magnética.


“Decifra-me. Ou te devoro.”


Socorro, me deparei com eles! ... — Mas... não me salve agora.


De todo o universo, impossível desviar. Impossível querer desviar. Mas, também, é impossível não querer, neles, todo dia mergulhar.







A lava lava. Queimar-me-ei?

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