31 de janeiro de 2008

Marchinha do Crau

Ninguém me chama na cidade pelo nome
O meu é Craucio, de batismo e de nascença
Se assim me falam, eu viro lobisóme
Dou crau pra lá, dou crau lá
Dou crau pra lá, dou crau lá

Casei na missa cuma dona bem manhosa
Me invoca sempre, e às vezes é pra nada
Vem todo dia me pedindo bem dengosa
É "Crau..." pra lá, É "Crau..." pra cá
É "Crau..." pra lá, É "Crau..." pra cá

Ai a patroa tem um corpo que é beleza
Me dá na telha e eu vou pra sua saia
Mas ela teima, se fazendo de burguesa
"Sai, Crau, pra lá, Sai, Crau, pra cá"
"Sai, Crau, pra lá, Sai, Crau, pra cá"

Mas se me irrito, ela vê que tá errada
Vem com jeitinho, vem mimando bem mimosa
Aí num güento, dá uma coisa bem danada
E é crau pra lá, e é crau pra cá
E é crau pra lá, e é crau pra cá
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27 de janeiro de 2008

Soalheira

É noite
É céu
É frio
É inverno dos mais invernos

Mas em plena noite
v o c ê , e u
você eu
voceêu
voeçue
voeuce
veoceu
evoeçu
u u u
^e
ê
e^

s s s

Aqui vem a pausa
O clarão
O fulgor pós
O cruzeiro
As três marias reticentes
O respiro suave
Que se voasse
Era você e eu
E ainda
É noite
É céu
É frio
Mas em noite plena
voceeeu
estrelamos

a soalheira
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17 de janeiro de 2008

Todo o nada

O quê
o branco?

senão o nada
que é mais nada
que o tudo
em seu tudo-ou-nada?

O que o branco
senão criar
senão pintar
senão fazer
num instante
congelado?

Papel branco
pra amassar
rabiscar
refletir
desafiar

Que quer em mim, pergunta
Eu, respondo

Tem nada que é treva
pedindo por luz
querendo os caminhos
ir nenhum lugar
com medo de achar

Meu nada é a tela
pedindo curvas
sem querer caminho
ir qualquer lugar
desejo de encontrar

É quando o branco
me explora
se espalha
pelo que é meu
creia do nada
crie de novo
tum toque foge
um toque vem
e tudo que tinha
já é nada
pelo nada
que já me tem

Vou sendo preenchido
com o vazio do porquê
espalha sobre as letras
com leveza segurança
no branco mergulhado
letras sobre ela

E o que ser ela
senão este branco
do criar?

Corpo branco
pra amassar
rabiscar
refletir
desafiar

o que não fui

Eu dentro do branco
o branco dentro do eu
jorra um pouco de nada
que descortina
que incita

Cadê você
que se dizia emaranhado
se o que vê
é Narciso admirado
num lago abaixo do céu
branco
e procura no lago brando
o céu?

As poças do meu passado
todas negras
tão rasas
não é Narciso
quem se ajoelha
é um si
profundo de lago
de lago branco
no toque da água
são eu milhares
cristais de mim em ondas
brancas
eu beijo
eu sumo
eu nado

O piso que não há
e antes tinha
é de cair pra quem quer tudo
ou pra voar pra quem é nada

Começar
é terminar

Segurar
pra insegurar

Em tua poesia vivida
vi
vida

Queria deixar em teu branco
uma poesia
com a forma que é teu branco:
qualquer tudo!
que não absorve
reflete
e saber que
no fundo
no fundo
sou um nada!

Queria deixar em teu branco
uma poesia
com quem quer nada
com a forma que é teu branco
uma poesia
apaixonada

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16 de janeiro de 2008

Big Bother loves you

Money, Honey
Money

Power, Flower
Power

If I see you
I'll fire you

There're eyes on you
There're us on you

Do let me see you smile anyway
Don't let me see you miles away

Pay atention
Stay at tention
And don't mention
It's in formation

Free dom
Is very lave
You don't have knuts
To be it: live

Googlemonia, microhard
For your owl security

Puppets! Ignorance
Is Force

Cause I pay you, l owe you
And Big Brother lovezoo
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12 de janeiro de 2008

Novo vírus anunciado: Ó²

O estigma uma couraça protetora.

"Não quero me colocar nesta história, mas sou filho de eletricista, estudei à luz de um lampião de carbureto, e ia sempre à biblioteca municipal, pois não podíamos comprar livros. Não tenho, portanto, paciência em aceitar que as pessoas não estudaram porque foram antidemocraticamente impedidas, porque a discriminação acabou com elas. Não, não. Elas só não quiseram. Entre as duras obrigações escolares e as amenidades, optaram por este último caminho."

Ataliba de Castilho sobre FHC criticando o português do Lula.

__Paty pobre pata, armariou-se em volta com seus colegas homídeos e amêgas tãquãoquaques. Teve escolha? Baladeinha. Não gosto de cinema. Não gosto de ler. Só auto-ajuda. Ameaça, nerd higienizado, firewal, farewell. Longe dele ainda parecemos grandes.

__E à luz de um incomprenprado, clep clep clep. Vai citar alguém. Cleptomania autoral, projeção lá atitudinal. Ó. Ó. Ó (pai), Ó.

__Pior a paty pata e... pãta... de rica. Teve escolha. Camufla-se com nomes próprios próprios ou alheios, ou de amigos poetas. Conheço um cantor, um produtor. Ah, sim, o cinema. Sou esquerda mas não tirem meu pejô. Vem cá, sim? Mas não diga palavras difíceis. Perto dele parecemos grandes. Ah, não fala assim. Beijo, tchau. Longe dele ainda parecemos grandes.

__Casas e barracos, bostas, xerosas, chei-rosas, cagam o dia, bostas e põe-nas no prato na panela no prato do dia no prato e um lava a do outro num espelho tele-tela. Respirando seus gases numa bola de neve bóstica circular morrem sem o respiro que só quem deu dá ao ar que pesa, pesa, pesa sobre suas cabeças ratejantes (sic, ic). Quê? Não, é preguiça mesmo.

__Cascos sociais de tartaruga nesse mãããr digente.
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11 de janeiro de 2008

Arauto

Veio solene como da aurora pro sol, veio castiço como da luz de uma vela para quem procura, veio informação o que vinha da classe alta. Ar pomposo, ar grave, ar altivo, ar alto.
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São, são

Foi-se o fio
Foi-se a força
Foi seu fio
Foice à força
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Poeditar

Te ditam tanta tantra
Que não ser ela prosa
E que ela ser no verso

Não ditam em o tanto
Que há sim verso sem rosa
Ou prosa ao inverso

Discutem das bancas
Impõem suas trancas
Se vale, se mole
Se dura, se ferra
Engole, ou tu erra

Que tem anjo no canto
Beleza um-versal
No puro, no sujo
No quando, no qual

Like a vida de Sansão
E dos que são porque são
Me cubro igual
Ou descubro insão

Ah, poesia água
Não tem letra
Não tem precisa
Não é precisa
"Não se precisa"!
Horas num verso a fio
Em si me nada esboça
Tem prosa, sim, que é rio
E grandes pura poça

Ah, poesia me rio
Molha os cabelos de touca
Ah, poesia do brio
Deixa com água na boca!
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5 de janeiro de 2008

Terra de ninguém

Estirado na areia: sol.
Sem vento: água e sal.
E não é ali. É aqui.
Um mar escorrendo.
Vontade escorrendo às gotas.

Tirado da areia: suando. Suo e ando.
Sonhando em vento. Leve, que me leve.
Calor, calor sem fazer nada.
Nada ali no mar, e nada aqui no bar.
Nada, nada, a danada anda.

Calor parado. Bafo.
É metabolismo.
Acelerado.
Quer coisas.
O rei pensa: água, água!
O jóquer grita: fogo, fogo!


Mas é muita brisa, muita brasa, pouco fogo.
Muita sede, e nada d'água matar.
O vento afoga: a brasa vira fogo..
O vento não veio: fogo, fogo!
— Foi um pedido.

Fogo que aquece sem sol é isso: furacão.
Nem precisa nome de mulher.
Basta um vento, um invento.
Queria ter entornado.
Ou tornado um tornado.
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4 de janeiro de 2008

Doce melado.

__Joguinho.
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__Crie frases usando as 7 notas musicais.
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  • Reme só lá.
  • Só lá me dô.
  • Fala lá!
  • Se lá faz sol, doce mela!
  • Sol: me dóre.
  • Mire lá.
  • Mi, sofá dou fácil.
  • Fala-se do laço, do lado.
  • Fala-se do solado: "faz-se sola".
  • "Dóla"? — Si, si, si!
  • Me faço fácil, se me mela.
  • Se me faz só fado, dou ré fácil.
  • So Fáfá faz mimir do lado do sofá.
  • Do doce, só "resído".
__
__(Essa eu desafinei.)
__
__— Só essa? Que dó!
__
__[...]
__
__Crie uma e comente.
__
  • DO
  • RE
  • MI
  • FA
  • SOL
  • LA
  • SI
__
__

2 de janeiro de 2008

Palavras cruzadas

Este blog fica muito tempo deitado. Não gosto de um Baco dorminhoco esperando que suas raras musas o cavalguem sem licensa. Sinto falta de músculo! — apesar de me auto-avaliar como um corpo mais definido, de 2007 em relação ao anterior.
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__No fim do ano passado ganhei um vício: o das cruzadinhas. Nivel médio. E durante as tempestuosas nuvens, carregadas de dúvidas, fui palco de clarões criativos nos quais as palavras deixavam de ser quebra-cabeças para unir mosaicos; reciclar lascas e inaugurar novos significados.
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__— Dentro de minha concepção zoofílica, é claro.
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__Exemplo: solerte. Que no quadrinho dizia "esperto, ardiloso". No dicionário, encontro um proceder com desembaraço, iniciativa e sabedoria; diligente, sagaz. E ainda um segundo significado, hábil em usar meios desonestos para conseguir o que quer, embora com aparência de honesto; velhaco, manhoso.
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__Eu nunca ouvira mais gordo. E de repente me peguei queimando gorduras acumuladas nos neurônios tecladais, criando um aforismo qualquer, sem pretensão, apenas de partida; inclusive partidário.
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__E também: dragona. Ombreira usada por militares.
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__Por fim: paroleiro. Que é mentiroso. Ou, como diria Capitão Morte, fanfarrão.
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__Pego cada uma da cruzada e... as cruzo! Com o caviar na cabeça. Ou o que vier, que já basta. O resultado é um pato de dois andares, um oranga-pau. Quem lembra do Pica-Pau e o cientista que cruza coisas vai entender.
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__Lulas, Teixeiras, Euricos. Criam leis, leiloam para impedir melhor uso de nossos artilheiros. É o país do futebol: boleiros e parolas nos botecos, nos senados. Enquanto os melhores cientistas vão para a Suécia estudar de graça.
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__— Mas a Copa será aqui, não lá.
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__Disse o Chaves, o mexicano, que ele era ladrão não por escolha, e sim por maioria de votos.
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__Fosse brasileiro... AB na certa.
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__De candidato único a candidato forte único se compra reeleição. Para a sede da Copa Mundial da Ignorância, advinha quem será reeleito?
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__Enquanto isso, soletre solerte.
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__"O q eh issu?"
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__Solerte é aquele que emanguaça padrinhos com o dinheiro dos 51% que o elegem, sem contudo deixar os 49% tocarem na Justiça, já que os emanguaçados são as dragonas que promovem a imagem, boa ou má, dos eleitos. Portanto, solerte é como se fosse os para-sempre-festeiros-de-motivos-sem-sabê-los-obscuros. O que se reelege sorrindo e trabalha chorando.
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__"ah tah..."
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__Então. Soletre. Solerte.
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__"esse, o, ve, vc"

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__Gostei deste execício.
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__Que venham mais patos de dois andares! Que orgie o dicionário! Que as cruzadas persigam minha pança religiosa! Que 2008 seja menos paroleiro, tampouco solerte! No ano das Olimpíadas do dragão, no atletismo verbal menos dragonas morais no comando ei de ser.
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__Amém.
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